domingo, 27 de dezembro de 2015

Carta ao efêmero amor

Querido estranho, como está? Primeiro, quero que você saiba que gostei muito de ter te conhecido. E agora, depois que eu pude racionalizar toda essa doideira que foram os últimos dias, devo dizer que sentirei falta de seu sorriso e que o guardarei comigo. 

Como foi bom ter você em meus braços naqueles dias. Parecia (e eu queria isso, mesmo) que eles nunca terminariam. Isso foi tão bom, você não deve fazer ideia, na realidade.

Querido estranho, queria te agradecer. Se nosso romance não foi pra frente, pelo menos me ajudou a escrever algumas cartas. Outras não tive coragem de enviar e ainda estão guardadas. Você me ajudou a colocar, novamente, as minhas ideias para fora do coração e a transpô-las para o papel. Obrigado. No fim das contas, ao nos separar, o destino me fez um bem danado. 

Amado estranho, deixarei uma rosa em cima da mesa para você. Venha pegar quando quiser. 

sábado, 26 de dezembro de 2015

Sobre a garota mais confusa por quem ousei me apaixonar

Foi bom e ruim te reencontrar. Que estranho. Estranho não poder te beijar como eu sempre fiz. Estranho não poder te tocar como eu sempre toquei, morder seu queixo como prova de carinho. Estranho.

Olhar pra você e sorrir. Ganhar seu sorriso de volta. Que estranho! 

Estranho seria, como diz a música, se eu não me apaixonasse por você. 

Estranho é eu te querer, sentir que você também me quer e a gente continuar paradas no meio do caminho. Não vale a pena negar tanto um sentimento como o nosso. Pra onde vai fluir isso que é tão bom de sentir? Me diga, por favor!

Se não me quer, também, me diga. Fale, de uma vez por todas, que não quer mais que eu te procure, que não quer mais ouvir minha voz, que não sonha mais comigo, que não deseja meu corpo ao seu lado, em sua cama. Me diga, logo! 

Prometo que, ao primeiro sinal de seu não, eu arrumo as minhas malas. E juro nunca mais bater em sua porta no meio da noite. 

Me diga, mesmo que não seja o que eu queira escutar, de verdade.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Pinte-me como uma de suas francesas

Quando me encontrar, não conte história, penetre profundamente em meu olhar. Deixe-me mudo com um daqueles beijos demorados que eu só tive a chance de ver no cinema. Coloque sua mão sobre meu rosto e deslize afastando o cabelo dos meus olhos. Beije meus lábios, meu nariz, minha testa. Faça-me descer pelo teu pescoço, roçando minha barba, sentindo o cheiro do teu corpo. Faça-me deslizar em teu peito com minha língua.

Coloque-me de joelhos e eu te faço uma oração.

Empurre-me contra a parede para me fazer sentir o quanto me queres. E, segurando minha cintura, faça-me desejar que esse momento não acabe.

Depois de me mostrar o quanto me desejas, deixa-me beber de ti. Alimenta-me. E eu me sentirei pleno.

Até que tenhas vontade de fazer tudo isso novamente.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Bilhete deixado na porta da geladeira

Antes de sair, escreveu em um papel azul:

Estou indo embora. Foi bom te conhecer e fazer planos de vida contigo. Mas acredito que somos incompatíveis. Você é um ótimo rapaz, bonito, simpático, gentil, carinhoso, inteligente, com bom papo... Não perca tempo comigo. Vá atrás de alguém que possa te fazer feliz de verdade.

Saiu deixando o bilhete na porta da geladeira. Jogou a chave que tinha do apartamento por debaixo da porta e nem se despediu da gata de estimação que eles dois tinham.


domingo, 6 de dezembro de 2015

Testamento (ou Ponto Final)

Ao antigo amor deixo nossas cartas trocadas durante os anos em que estivemos juntos. São cartas escritas em papeis já amarelados pelo tempo, algumas com buracos criados por traças, mas as palavras foram sinceras e ainda estão em perfeito estado. O sentimento ainda é o mesmo, com algumas camadas de poeira e envelhecido. Ao contrário dos vinhos que tomamos, o sabor não foi aguçado com o tempo. Para minha e para a sua sorte não passam de lembranças do passado em que tentamos ser felizes.

P.S.: Ainda espero que você tenha sido feliz com a outra com quem casou.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Salvador, 15 de novembro de 2015

Eu sei que disse que nunca mais te escreveria carta alguma. Ou bilhete. Ou mensagem. Mas não resisti. Desculpa se incomodo com minhas palavras, que devem parecer vazias para você. É que esta noite, quando saía de casa, lembrei de nosso primeiro beijo, saindo do elevador. Um beijo roubado. Como dois adolescentes... Antes disso, meu coração batia forte, minha mão suava, se fosse falar, com certeza, gaguejaria. Mas sempre soube que é no silêncio pré-beijo que a coragem se faz.

E depois disso, sentir teus lábios, você me empurrando porta adentro, ainda me beijando, me segurando contra ela, enquanto a fechava e, ao mesmo tempo, abria minha camisa de botão, escolhida justamente pra facilitar a retirada. Tua barba por fazer roçando meu pescoço, tuas mãos do tamanho ideal para segurarem meu rosto. Nunca esquecerei nosso riso quando nossos dentes se bateram. Ou do susto que tomamos quando teu gato passou por nossas pernas entrelaçadas. 

Tocar teu rosto é a melhor lembrança sensitiva desse momento. Sentir cada centímetro de sua pele, me esquentar em seu abraço. Seu corpo é incrível e tem um magnetismo inexplicável. Poderia ter ficado horas naquele abraço, dançar sem música contigo no meio da sala. Poderíamos perder a noite inteira só explorando nossas sensações a cada toque. 

Se eu fecho meus olhos ainda posso te sentir, sabia? Deve ter algo nisso tudo. Com certeza. Até Roberto Carlos eu tenho escutado. Logo eu, que nunca gostei de ouvir as coisas que ele faz. 

Desculpa, de novo. Deve ter sido o baseado que acabei de fumar, ou a garrafa de vinho que acabei de secar. Mas queria dormir contigo essa noite.

Mentira, não queria. É melhor deixar o passado no passado.

Todo seu,

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Mas você não volta

Você poderia me abraçar agora. Você poderia me querer agora. Você poderia fingir, apenas uma vez, que gosta de mim.

Eu deveria ser menos idiota e não dar mais ousadia para você.

sábado, 3 de outubro de 2015

Não peça licença antes de entrar

Você é um perigo e sabe disso. E, sabendo disso, usa todas as suas armas contra mim, que ando desarmado, sem defesas, diante de tanta armadilha. 

Cara, observe... Todas as vezes que a gente se vê, basta um olhar teu pra que eu desfaça qualquer cara de entojo em sorrisos e elogios e carinhos mil. Eu nem lembro de meus problemas quando estou perto de você, seu filho da mãe.

Moço, você não tem noção da ebulição de adrenalina que provoca em mim quando lança tu mirada de latino cafajeste. E nem sabe o quanto se avoluma minha calça quando me abraça e, sem-querer-querendo, passa tua barba em meu pescoço e ainda sussurra alguma coisa incompreensível em minha orelha.

Você nem sabe, e nem vai querer saber, tenho certeza, de quantas homenagens solitárias já te fiz. Talvez por isso você me faça sentir mais adolescente que quando eu tinha 14 e escondia fitas no armário de lençol em meu guarda-roupas.

Menino, eu me pergunto se você faz isso tudo de propósito. Ou será que faz essas coisas inocentemente e nem faz ideia de como mexe com os meus nervos. E não apenas nervos, mexe com os corpos cavernosos e esponjosos. Mexe com meu coração, que acelera algumas batidas por minuto a cada passo teu em minha direção. E mexe com minha cabeça inteira. 

Vixe, boy! Seu perigo é tanto que eu não consigo nem pensar em como fazer pra me defender de suas investidas, seu capetinha. Pare de me provocar respirando tão perto de meu cangote, mordiscando minha orelha e arranhando minhas costas de leve. Não pare, não.

Seu grande sedutor. Acho que não tem mais pra onde fugir. Fodeu. Já estou mais que preso no emaranhado de seus cabelos, nos seus pelos, no seu pau. Preso em seu corpo. Pode tirar o que quiser de mim: meu sangue, minha alma, meu leite. Não vou nem me fazer de difícil, quando, na verdade, você já conhece todos os meus pontos fracos. 

Agora, eu, que costumava rir na cara do perigo, paraliso em sua frente, me dispo e me abandono a você. Sou todo seu.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Seu rosto na tevê

Hoje eu morri de saudade de novo. Bastou te ver na TV falando sobre sua exposição para um repórter (que eu odeio, por sinal) para que tudo voltasse. Obviamente me benzi e pedi a Iemanjá que afastasse qualquer sentimento que estivesse ressurgindo.

Sou mais forte que isso. Sou mais forte que qualquer coisa do passado que venha a perturbar minha energia de agora. Eu mato qualquer coisa que queira reviver. Amor zumbi não é comigo. Não sei aonde essas forças de satã acham que vão tentando me fazer pensar em você só porque te vi sorrindo, lindo, para a câmera. Quase como se sorrisse para mim.

Mas eu disse não, mais uma vez.

É foda quando eu imagino que poderíamos estar juntos se você quisesse. Quantas vezes te liguei para tentar te ver e você recusava qualquer investida minha? Em um determinado momento comecei a me sentir um stalker louco. Foi quando me dei conta que você não merecia minha atenção.

Mas se você estiver por aí me lendo, fique sabendo que, caso queira me ligar e me chamar para ir ao teatro contigo assistir àquela peça da Marieta, não recusaria. Talvez até tome um vinho contigo depois do espetáculo. Mas não passará disso, pois os gatos só dormem quando eu chego em casa.

...

Que inferno, não acredito que escrevi isso. À merda essa história toda. Deve ser o sono que está me deixando assim. Melhor ir dormir.


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Deixa eu te amar

Oi, como vai? Soube que você tem andado cheio de trabalho, cheio de coisas para entregar e sem tempo nem para tomar uma cerveja em um boteco com velhos amigos. Espero que esteja bem com isso tudo. Sempre conversamos sobre o tempo que destinávamos ao trabalho e sempre fui eu a pessoa que precisava dar um tempo. Acho que nunca combinou com você isso de ficar afogado em trabalho de segunda a segunda.

Soube por amigos seus que você não tem atendido às ligações de alguns deles, parece que está brigado com o mundo. Espero que seja só trabalho demais o que tem o afastado das pessoas que você gostava tanto. Por falar em trabalho, vi que você vai expor novamente aquelas obras. Para mim são as suas melhores criações, sabia? Mesmo que você não goste tanto delas e que tenha jurado nunca mais expô-las.

Fiquei pensando se devo ou não aparecer na vernissage, já que não estamos nos vendo muito nos últimos meses. Mas confesso que adoraria rever suas obras e, claro, te rever também. Tomara que você não fique a noite toda rodeado de fãs e jornalistas.

Bom, trabalho logo mais, acho que vou dormir. Preciso estar um pouquinho descansado, pelo menos, amanhã de manhã. Nos falamos depois. Ou melhor, eu falo sem saber se você vai sequer me escutar. Até...

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Não fode, Alberto

Prometi a mim mesmo, mais de uma vez, que não aceitaria mais seus convites para sair, para tomar cerveja em bares, para comer sanduíches de mortadela. Mas tamanha minha vontade de olhar novamente para seus olhos que esqueci minhas promessas. E aqui estou eu, há duas horas sentado neste bar, já na quarta caneca de chopp, já escrevendo poemas sem sentido no guardanapo, contando minha história para o garçom e acendendo o quinto cigarro da noite.

Porra, Alberto. Eu tinha parado de fumar, sabia? E agora todos os meus esforços foram pra casa do caralho porque, mais uma vez, você teve muito trabalho ou teve que buscar bagulho na casa de alguém ou outro alguém terminou o namoro ou meu cu, velho.

Eu vou mandar você à merda se foder na puta que te pariu mais uma vez. Tomara que eu consiga manter a promessa que fiz hoje ao garçom, de nunca mais voltar a falar com você ou a este bar contigo.

Vou deixar o seu nome gravado na árvore e embaixo escrever "filho da puta", com o perdão de todas as putas, que não merecem um filho como você.

domingo, 12 de julho de 2015

Dois de Fevereiro

Escutei ao longe o canto da Rainha. Era madrugada do dia dois. Tenho certeza que ela cantava para abençoar seus filhos. Cheguei na beira do mar, na pedra de onde pulava na meninice, competindo com os outros garotos para ver quem tinha o salto mais bonito. Fechei meus olhos e comecei a cantar com ela. Para ela.

A rainha me acompanhava diariamente desde meu nascimento. É dela de onde flui toda a fertilidade. De onde eu nasci. Foi dentro d'água que minha mãe sentiu as primeiras dores do parto. Foi no mar que ela caiu ajoelhada. E eu nasci ali, já com duas mães, no mesmo dia dois de fevereiro.

Em meus primeiros segundos de vida eu já tinha no coração os dois carinhos que me acompanham em meus caminhos na Terra. Eu era um presente de minha mãe para a Rainha e um presente dela a minha mãe. Foi para estar perto dela que eu aprendi a nadar e a pescar com meu avô, que sempre me contava histórias de seus encontros com Janaína.

Sentado à beira da pedra, o balanço do mar tocava meus pés. Eu sabia que era ela me fazendo carinho. E no balé das águas, escutando a Rainha cantar, adormeci.

E meus sonhos me levaram direto para Aiocá, terra onde ela é princesa. E ali fiquei até sentir o sol na pele e ouvir os filhos dela levando presentes em procissão e louvor.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Mudança

Conversando com minha mãe sobre tudo que estou passando: essa mudança de cidade, a minha demissão, a grana que deve entrar com a venda de nosso apartamento. Ela me perguntou sobre você. Como não soube o que responder, disse que você está bem. Está?

Soube que você também se demitiu e decidiu investir no cinema. Sua irmã que me disse isso, assustada. Ela se preocupa em saber como você vai pagar suas contas. Afinal todo mundo sabe que cinema não dá dinheiro pra ninguém nesse país. Aquele filme Crô nem foi completamente pago ainda, sabia? Também, é péssimo. Lembra que vimos juntos e olhávamos na cara um do outro com uma expressão pior a cada cena? Nem gostar de Ivete Sangalo salvou aquele filme.

Mas, além de sair do trabalho pra virar cineasta, você tem mais novidades? Aquele projeto de montar uma empresa foi por água abaixo? Desistiu de vez? Ou só adiou os planos mais uma vez? E quanto a Otávio? Esse casamento sai ou não sai? Devo estar parecendo sua mãe te enchendo de perguntas bobas.

Não vou mais questionar nada, relaxe. Bom, manda beijos pra d. Lucia e seu Olavo. E diga a Natália que eu disse que confio em você (já falei diretamente, mas ela insiste em se preocupar). Quando o bebê dela nascer você me avisa? Quero mandar uma lembrancinha... 

Em quinze dias me mudo para o Rio e queria tomar um café contigo antes da viagem. Sem cigarro (parei de fumar), sem açúcar (também parei) e com creme (porque eu não sou de ferro).

Beijos

quarta-feira, 17 de junho de 2015

A força desse amor nos invadiu

Sabe, Colombo, estive pensando sobre as minhas escolhas para este ano. Não foram nada corretas, sabia? Sei lá, sinto que cometi erros horrorosos e que não posso corrigi-los. É como se eu estivesse no meio de uma roda de erros e tenho que melhorar tudo a partir dessa grande merda que se tornou viver.

Pensando aqui, esse tem sido um bom ano, sabia? Não tem tanta tristeza quanto 2014, poucas mudanças, todas as que tenho eu posso controlar. Mas sinto que uma coisa está bem errada... E eu ainda não sei o que é. Talvez seja só uma vontade de fazer a coisa certa. Uma vontade que vem misturada ao desejo de ter deixado um monte de coisa pra trás.

É, Colombo, vou comprar mais cerveja porque a nossa acabou. E eu parei de fumar.

Taí, talvez seja a minha decisão mais acertada em 2015: parar de fumar.

Vou ali.

sábado, 6 de junho de 2015

Feitiço do alho pra amarrar homem (ou Sandro e o ex sem nome, mas que todos já sabem quem é)

Sandro, de repente, fechou o livro que estava lendo, algo sobre religiões pagãs, e olhou para o souvenir da torre de Piza que tinha ganhado de seu ex-namorado. Abriu um meio riso, achando meia graça naquela miniatura de torre torta. Inclinou levemente a cabeça para corrigir o erro da torre, deixou o livro de lado e tomou mais um gole de vinho. Procurou a ponta que tinha deixado no cinzeiro, reacendeu, puxou umas duas ou três vezes e continuou a fitar a torre. E ela se inclinou mais ainda. Ou foi sua cabeça que inclinou para o lado contrário. A uma altura dessa, vinho, maconha, sono, já não sabia.

Sandro tentou continuar a ler, mas as lembranças de seu ex-namorado que fora à Itália começaram a surgir e surgir e voltavam e ele já tinha mergulhado na bad trip. E começou a lembrar de como se conheceram trocando olhares na escadaria da faculdade. Sandro ainda era casado com Adriana e não entendeu porque sorriu para o desconhecido bonitinho que subia a escada e que também sorria para ele. Eles nem se conheciam e Sandro já sabia que o queria por perto o mais rápido possível. E depois ele contou a Sandro que não virou só para não dar ousadia, mas que perguntou aos amigos se sabiam quem era o de aliança na mão.

Sandro nunca traiu sua esposa e quando viu que seu pau subia agora por um rapaz decidiu separar. A onda bateu ruim de novo, sentiu-se péssimo em abandonar a mulher com quem sonhou ter filhos, até. Tomou mais um gole de vinho e deu mais um pau no baseado, que a essa altura já era quase ponta. Precisava mudar a vibe da noite. A torre se entortou mais ainda e ele já nem sabia mais se era Piza ou Eiffel. Piza, decidiu. Lembrava pizza, que lembrava Itália que lembrava seu ex. Decidiu homenagear o souvenir e resolveu matar a fome, aquela famosa fominha, com uma macarronada.

Decidiu cortar tomate, cebola, pimentão, alho, tudo isso enquanto a massa cozinhava. Chorou muito enquanto cortava o alho. Não entendeu nada pois, apesar de se parecerem, ele sabia que alho não faz chorar igual a cebola. Mas a gente sabe, Sandro, a gente, que está sem fumar nada, sabe que você morre de tesão nesse cheiro de alho. Não é bem tesão, não sei o que é pois não sou você. Mas sei que você morre de saudade desse homem, esse capeta disfarçado de homem, e que alho te faz lembrar como vocês começaram esse romance esquisito.

Sandro chorou e cortou o dedo enquanto tentava cortar pedaços de bacon para colocar no molho. Essa não era a noite de Sandro. Decidiu que ligaria para ele. E ligou:
- Alô! - aos prantos e nem conseguia abrir os olhos e sentado no chão cozinha
- Hum...
- Eu não consigo esquecer de você, inferno...
- Hum...
- Que feitiço você me rumou que eu não posso me desligar desse amor? Tem alho nele?
- Hum... - riu um pouco, mas disfarçou.
- Por mim você morria.
- Arram...
- Mas vem se despedir de mim aqui em casa antes de morrer? - desligou o telefone achando que já tinha dado ousadia suficiente para aquele babaca.

Ele não foi, mas alguém apareceu por lá meia hora depois e encontrou sangue na cozinha e o macarrão queimando no fogão. Sandro estava no banheiro lavando o rosto e o machucado. Quando viu que alguém batera a porta correu feliz ao seu encontro e viu que era Thiago, seu melhor amigo. Este, espertamente trocara o nome dele com o do tal ex na agenda do celular de Sandro para evitar esse tipo de atitude que acabaria em ressaca moral, afinal todos sabemos como é vergonhoso ligar para o ex durante embriaguez.

Thiago ligou para a pizzaria, guardou o souvenir, fez um curativo na mão de Sandro, enrolou mais um baseado e decidiu que passariam a madrugada assistindo a sitcoms juntos, falando mal dos ex, comendo besteira e sem pensar em nenhum país além-mar.

Sandro riu e esfregou bastante sabonete na mão para sair o cheiro de alho. Mas sabia que se encostasse o nariz no indicador esquerdo poderia sentir o cheiro maldito da mais gostosa paixão que já teve.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Quase quatro da manhã

Você não tem nada a ver com isso, não me peça para te explicar nada sobre a minha vida. O que te importa se agora eu ando com a cabeça baixa? Quando foi para me dizer adeus você não fez questão de olhar em meu rosto e observar as lágrimas caindo. Desde quando você se foi que eu espero esse dia chegar, Espero te encontrar para te ouvir querer saber de mim, me dizer o quanto sente saudades... E, depois, te contar que venho até remoçando, e até canto, às vezes. Mas nada por sua conta ou por por você.

Agora que você já está sabendo o quanto fico feliz de te ver longe, faça-me o favor de não aparecer nem em meus pensamentos de vingança. Não quero macular meus dias com o desprezo que tenho por você. Espero que minha devolução de todo o sentimento ruim que você me criou esteja te alcançando e que você sinta na alma o quanto me fez sofrer, Espero também que esteja com tanta saudade de nossos dias quanto eu fiquei da vez que você me deixou e que você ache alguém que te faça sofrer de amor tanto quanto ou mais do que você me fez.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

O melhor beijo de toda a minha vida

Lembrei do dia em que nos conhecemos, lembra? A gente estava naquela festa - chata, diga-se de passagem - da Mariana. Só ficou boa quando a Lúcia colocou Os Mutantes pra tocar, lembra? A cara de Juliano, aquele crente, quando ouviu Ave Lúcifer... Hilário!!

A gente nem tinha sido apresentados, mas começamos a conversar sobre Rita e como ela era linda. Como nós dois passaríamos por cima das nossas convicções sexuais pra uma noite de amor e LSD com ela. Que doideira, cara! Como se Rita fosse liberar pra algum de nós dois. Pior! Como se bastasse ela pra "curar" a gente. Naquele dia eu tava louco de tanto uísque na cabeça. E otras cositas más...

Acho que começou tudo ali. Sua boca e a minha tão perto uma da outra... Aquela fumaça compartilhada era como nossas almas se misturando. Não deixamos quase nada escapar. E aquele beijo com a cabeça feita...

Foi o melhor beijo que eu dei em um desconhecido em toda a minha vida.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Eu vou ficar bem (ou Manda notícias)

Sabe, naquela manhã que você me deixou, eu achei que morreria. Foi doloroso pra caralho assistir a você arrumar as malas, uma por uma, em silêncio. Nossa, cada camisa que você colocava na sacola era uma ferida aberta em meu peito. Você não faz ideia de como eu me rasguei por dentro. O zíper se fechando era como uma navalha rasgando a minha pele. As lágrimas escorrendo em meu rosto eram como uma sangria de um novilho. Eu morri mais de trinta e duas vezes naquela manhã. E não tive sequer um olhar de piedade. Eu quis sua piedade, cara.

Eu não dormi durante três dias. Eu precisei ligar pra meus melhores amigos. Eu não tinha forças pra levantar da cama. Sabe aquela sua corrente, que eu mesmo dei de presente no verão que passamos em Búzios? Eu desejei que ela fosse uma corda e, assim, eu poderia dar cabo de minha vida com um pedaço seu. Eu a escondi achando que você, ao menos, voltaria pra tomá-la de mim. Mas você parece ter desistido dela, da mesma forma que desistiu de nós.

Ainda não entendo por que você se foi. Será que um dia teremos a chance de conversar sobre isso? A cada manhã eu imagino que ainda acordarei de seu lado, mas, porra, você não tá lá, caralho!

Sonhei com você, dia desses. Você morria em um acidente de moto. Eu acordei aos prantos, mas confesso, me sentia aliviado, no sonho, por saber que meu sofrimento teria acabado pra sempre. Prefiro que você morra a saber que você consegue ser feliz sem mim. Não sei se posso te esquecer. Não sei sequer se eu consigo imaginar a minha vida sem você, mas sei que prefiro que você esteja morto a imaginar que me deixou porque era infeliz.

Entendi, agora. Eu nunca te fiz feliz. É isso. Eu errei o tempo inteiro, meu Deus. Eu quero te pedir desculpas, eu posso ser diferente. Deixa eu te provar que posso mudar. Preciso de você ao meu lado.

À merda essa porra de carta do inferno. Eu não quero que você volte. Eu vou ficar bem.

Por favor, manda notícias.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Segue em construção

Aquele que tem um arco e flecha nas mãos mirou certeiro e profundo bem no peito do animal mais pesado que podia ver. Da melhor maneira possível, fez questão de marcar o peito do animal com a seta que indica sua propriedade. Mas o fez de forma oculta, para que ninguém soubesse. Dizem as boas línguas que essa é uma boa marca. E dizem as más que a marca só aumenta o desejo de outros pela carne. Dito ou não dito, o animal e o seu algoz não eram parte de nenhuma realidade. E desapareceram, como um sonho de uma noite de verão qualquer.