sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Céu

Abriu um sorriso que
guardara por tanto tempo
Colocou em cima da cama as fotografias velhas
E ria como nunca mais rira


As estrelas presas no seu céu brilhavam como numa
Noite de baile
Como se casais estivessem se apaixonando naquele
Exato momento

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A Apaixonada

Se animou e tomou a caneta e um papel cartão vermelho. Enquanto no rádio tocava uma música francesa que ela sempre ouvia quando seu pai ainda era vivo, ela acendia um cigarro e bebia pequenos goles de um vinho que há muito queria abrir. Sozinha na sala de casa. Suas personagens estavam todas dormindo. Ela não podia mais escutar suas vozes em sua cabeça.

Escreveu uma carta apaixonada à mulher de sua vida. A mulher que prometera nunca mais amar. A mulher que estava em sua cabeça há anos. Como um passe de mágica, ouviu a voz de Paulo Henrique. E como não pudesse ser vista com esta carta de amor proibida, escondeu-a embaixo da almofada do sofá.

Paulo Henrique saudou sua esposa com um beijo. Ela correspondeu fisicamente. Em sua cabeça não era ele que a beijava.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Boteco: A Cena

Estava com um vestido lindo. Era novo. Acabara de comprar numa dessas lojas de gente rica. Tinha comprado especialmente para aquela ocasião. Então, tinha entrado naquele boteco pra saber como era e tinha adorado. Prometeu que voltaria tão logo quanto achasse um bom motivo para beber. Acendeu um cigarro. Ela aceditava parecer uma dessas damas de revista chique ou da novela da televisão. Era loucura, ela sabia. Mas queria uma vez apenas se sentir como se sentem essas mulheres.

Pediu uma mesa pra dois ao garçom. Não teria um encontro. Não era do tipo de mulher que tem encontros. Apenas não tinham mesas pra uma pessoa neste lugar e o balcão não era lugar para uma dama como ela.

Sentou, com seu cigarro ainda incensando o ambiente, pediu gin e tônica e bebeu devagar, como degustasse um bom vinho.

Pensava em algo vivido no passado, como a morte de sua mãe, ou a despedida de seu pai no dia de sua mudança para a capital. Pensava em algo triste para fazer as lágrimas descerem seu rosto. E elas desceram.

E a maquiagem, com tanto trabalho colocada, escorria pela sua face, como a chuva lavando a areia de uma colina. E borrada, a maquiagem tornava mais trágica aquela cena. Uma mulher. Uma dama.

Estava como ela queria. A cena estava completa. Não precisou ter um amor perdido, um animal de estimação morto ou um grande desespero. Só queria saber como era ser a mulher estranha de maquiagem suja e com cigarro na mão, para quem todos olhavam naquele ambiente.

Como se nada tivesse acontecido, pediu a conta. Ainda em lágrimas, pagou ao garçom, levantou-se e saiu. Saiu sem olhar para trás, sem limpar o rosto e sem apagar o cigarro