sábado, 26 de junho de 2010

Medo

De sair do calor e segurança da barriga
De ficar sentado no chão sem nenhuma segurança
De levantar e dar o primeiro passo
De cair quando ficou de pé a primeira vez
De passar perto do cachorro
De acender o fóforo e se queimar
De colocar a tomada no plug e tomar um choque
De caminhar sozinho até a escola
De dormir no escuro sozinho
De acordar de madrugada
De ficar em casa sozinho aos sábados de manhã
De subir na escada da casa da vizinha da tia
De olhar pra baixo quando estava lá em cima
De tirar nota baixa
De sair de casa num domingo à tarde e ir pra capital estudar
De que seu pai estivesse passando mal e não lhe avisassem
De andar pelo bairro de sua escola
De morrer quando o que mais desejava era morrer
De perder as melhores pessoas da sua vida
De ficar sozinho e não conatar a ninguém sua história
De perder a memória das boas coisas que fez
De não sonhar mais nunca
De morrer sem ter acreditado em si
De deixar pela metade os escritos e choros e sorrisos.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Rodrigo


Subiu ao último andar.
No terraço daquele prédio velho
Ficava observando a cidade grande
Atrás daquelas antenas
E daqueles prédios descascados

Nem sequer sabia há quanto tempo estava ali
E o tempo pouco importava a ele
Não podia perder mais tempo lá dentro
Se o mundo aqui fora gritava sua presença
Era atuar numa peça mal escrita

Os textos borrados de chuva
As roupas amarrotadas de sempre
Um sorriso perdido no canto do lábio

Uma lágrima escorrendo pelo rosto
Como sinalizando o fim. Ou o princípio?
Quem mais, além dele mesmo, pra saber?
Era Outubro. 
E um monte de coisas de Outubro aconteciam!

Nem em sonho o tempo passava tão rápido!
E num piscar de olhos via-se carros quase parados
Era a cidade
Grande
Era o verniz
Era um pouco de farinha

Ele e um cigarro no topo da cidade
Ele e as lágrimas correntes que vinham em seu olhar
Insistentes em saltar do olho
Ele e as lembranças dos sonhos

Ele era um sonho
Era errado acreditar em sonhos?
Fechou os olhos.

Daquele topo, do alto, podia voar
E planava sobra as nuvens
E voava sobre os carros parados na via pública
E fazia piruetas em cima das casas, entre os prédios

E virou capa do jornal do dia seguinte.