domingo, 17 de novembro de 2013

um canção para a noite toda

de onde vens? da casa para onde foges toda vez que cansa de estar ao meu lado? da barra do vestido daquela mulher que pinta os lábios com o vermelho da cor de sangue? da cama daquela uma que deve ter os lençóis sujos com o pecado? é de lá? e vens assim com esse cheiro de perfume barato? com essas flores murchas, compradas ainda ontem à noite na florista em frente ao cemitério?

é isso, que me ofereces? o cansaço de uma noite inteira sem dormir? se lambuzando no corpo daquela mulher devassa que quase não cobre os seios? não venha me beijar com os lábios sujos do corpo daquela! fique longe de mim, com tuas falsas lágrimas de arrependimento. eu te esperei durante o dia e a noite de ontem. esperei encontrar teu sorriso depois de um dia inteiro de trabalho, mas o que me trouxeste foi um ramalhete roubado de algum futuro velório? é isso?

não sabes quantas lágrimas derramei, enquanto imaginava aquela mulherzinha te despindo e se deixando despir. imaginando que ela estava te tocando, enquanto eu, morria um pouco, sozinha nesta casa enorme.

onde estão as crianças? na casa de minha mãe. mandei os meninos para lá, a fim de que não vissem seu estado ao chegar. e o meu estado ao te ver passar por esta porta.

por que choras? por que não tens coragem de me olhar no rosto? aquela vagabunda engoliu a tua língua enquanto beijava-te? responda? achas, por acaso, que irei acreditar em teu arrependimento silencioso? que apenas aceitarei que me digas alguma mentira sobre ontem à noite e que ficará tudo bem?

achas que calar-me com um beijo agora poderá secar as lágrimas que chorei ontem?

estou indo à casa de minha mãe buscar as crianças. deixei no forno a comida do jantar de ontem. se quiseres comer, podes, tu mesmo, esquentar.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Amor à primeira vista

Nunca pensei que fosse tão fácil se apaixonar por alguém. Bastou uma simples troca de olhares e foi suficiente para que eu me derramasse do mais absoluto e imbecil amor por aquele sorriso.

Os olhos brilhantes, como os de um menino que acaba de ganhar o brinquedo que desejava há tempos. Ou que ganhou um beijo da garota mais bonita da turma do colégio. Um olhar que brilhava ao encontrar o meu. Era como se eu pudesse mergulhar naquele brilho e sentisse como se fosse minha própria casa.

O sorriso cativante, aberto, largo, expressivo. Um sorriso sincero e cheio de alegria. Um sorriso meu. Pra mim, que bastava um leve movimento para me fazer sentir a segurança do mundo inteiro. O sorriso tão claro e límpido que era capaz de pintar de quantas cores fosse possível meus dias mais cinzentos.

A mão no cabelo, como a alisar a minha pele. A maneira única de passar a mão pelo cabelo, começando com os dedos abertos e fechando quando chegava perto da nuca. O jeito maroto e desengonçado de enrolar os fios atrás da orelha, como a desligar-se do mundo por alguns instantes.

E só de fechar o olho posso sentir que estou perto dela. Mas ao abrir os olhos, meu mundo desaba por não encontrar mais o amor da vida inteira que conheci há tanto tempo que nem lembro mais quando.