de onde vens? da casa para onde foges toda vez que cansa de estar ao meu lado? da barra do vestido daquela mulher que pinta os lábios com o vermelho da cor de sangue? da cama daquela uma que deve ter os lençóis sujos com o pecado? é de lá? e vens assim com esse cheiro de perfume barato? com essas flores murchas, compradas ainda ontem à noite na florista em frente ao cemitério?
é isso, que me ofereces? o cansaço de uma noite inteira sem dormir? se lambuzando no corpo daquela mulher devassa que quase não cobre os seios? não venha me beijar com os lábios sujos do corpo daquela! fique longe de mim, com tuas falsas lágrimas de arrependimento. eu te esperei durante o dia e a noite de ontem. esperei encontrar teu sorriso depois de um dia inteiro de trabalho, mas o que me trouxeste foi um ramalhete roubado de algum futuro velório? é isso?
não sabes quantas lágrimas derramei, enquanto imaginava aquela mulherzinha te despindo e se deixando despir. imaginando que ela estava te tocando, enquanto eu, morria um pouco, sozinha nesta casa enorme.
onde estão as crianças? na casa de minha mãe. mandei os meninos para lá, a fim de que não vissem seu estado ao chegar. e o meu estado ao te ver passar por esta porta.
por que choras? por que não tens coragem de me olhar no rosto? aquela vagabunda engoliu a tua língua enquanto beijava-te? responda? achas, por acaso, que irei acreditar em teu arrependimento silencioso? que apenas aceitarei que me digas alguma mentira sobre ontem à noite e que ficará tudo bem?
achas que calar-me com um beijo agora poderá secar as lágrimas que chorei ontem?
estou indo à casa de minha mãe buscar as crianças. deixei no forno a comida do jantar de ontem. se quiseres comer, podes, tu mesmo, esquentar.
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