domingo, 12 de julho de 2015

Dois de Fevereiro

Escutei ao longe o canto da Rainha. Era madrugada do dia dois. Tenho certeza que ela cantava para abençoar seus filhos. Cheguei na beira do mar, na pedra de onde pulava na meninice, competindo com os outros garotos para ver quem tinha o salto mais bonito. Fechei meus olhos e comecei a cantar com ela. Para ela.

A rainha me acompanhava diariamente desde meu nascimento. É dela de onde flui toda a fertilidade. De onde eu nasci. Foi dentro d'água que minha mãe sentiu as primeiras dores do parto. Foi no mar que ela caiu ajoelhada. E eu nasci ali, já com duas mães, no mesmo dia dois de fevereiro.

Em meus primeiros segundos de vida eu já tinha no coração os dois carinhos que me acompanham em meus caminhos na Terra. Eu era um presente de minha mãe para a Rainha e um presente dela a minha mãe. Foi para estar perto dela que eu aprendi a nadar e a pescar com meu avô, que sempre me contava histórias de seus encontros com Janaína.

Sentado à beira da pedra, o balanço do mar tocava meus pés. Eu sabia que era ela me fazendo carinho. E no balé das águas, escutando a Rainha cantar, adormeci.

E meus sonhos me levaram direto para Aiocá, terra onde ela é princesa. E ali fiquei até sentir o sol na pele e ouvir os filhos dela levando presentes em procissão e louvor.

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