terça-feira, 16 de setembro de 2014

Carta de Paulo a Tiago

Oi, Tiago,

Nossa! Hoje, depois que cheguei do trabalho, depois que passei no mercado, depois que dei comida pra Lica, depois disso tudo, lembrei que fazem seis meses desde que você se foi. Ou melhor, que eu me fui.

Aquele dia ainda está em minha cabeça como se tivesse acontecido ontem. Palavra por palavra que trocamos, seu rosto encharcado. O meu também. Nossas lágrimas molhando o chão. Pior dia da minha vida.

Em segundo lugar vem o dia em que descobri sua traição.

Eu realmente achei que ficaríamos juntos para sempre. Até prometi nem levar adiante esse seu deslize. Afinal, acontece sempre com os melhores casais. O nosso não seria isento.

Ainda ontem conversava com uma amiga, Clara, você deve lembrar dela. Ela me perguntou se existia chance de voltar a ficarmos juntos. "O mundo ainda está desequilibrado, você não sente essa energia ?", me perguntava, como se todos os males do mundo fossem por culpa do fim de nosso namoro.

Não, não há como voltarmos. Nem que eu queira. Nossas almas, de tão livres que ficaram, tomaram rumos diferentes. Te encontro e nem te reconheço, às vezes. É pior que isso. Reconheço um não que nunca desejei que fôssemos. E procuro o sim que se esconde atrás de seus olhos, mesmo esquecendo que os meus olhos estão fechados.

Vou mandar a conta do veterinário, como você pediu, apesar de achar que não precisa. Manda um beijo para sua mãe.

Com amor carinho,

Paulo

P.S.: Espero não ter mais que recorrer a cartas para falar qualquer profundidade.

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