sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Equinócio


De repente uma brisa leve tocou meu rosto. Era como mãos infantis me fazendo carinho. E um breve sorriso me escapou dos lábios. Há tanto tempo não sorria. Que estranho! Algo parecia escandalosamente estranho naquele momento. Era como se não houvesse mais motivos para esconder alegria. E não havia, de fato. A estranheza era parte de nem lembrar como era sorrir com liberdade de ser feliz.

Tão repentino quanto a alegria foi a tristeza que se seguiu, no entanto, uma tristeza vazia. Um vazio que agora podia ser preenchido. Era essa ideia de que alguém pudesse habitar o lugar que foi de outro por tanto tempo que deixava tudo tão confuso. Um verdadeiro misto de alegria, liberdade, dor, medo, angústia. Saudade. É, acho que essa é a palavra certa. Saudade sem dor. Uma saudade boa e leve, como a brisa.

Levantei da cama, abri as cortinas e a chuva lá fora também tinha parado. O inverno finalmente acabara. E as pessoas já não estavam mais usando guarda-chuvas. Saí do quarto e corri para a sala. A luz brilhante do sol tocava o chão e a mobília e me fazia, ao mesmo tempo, sentir que tudo estava pronto para recomeçar.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sobre dois adolescentes (ou Há quase 40 anos)


Quando o vi pela primeira vez, só enxerguei seu sorriso. Era lindo. Apenas isso vinha em minha mente. Seu convite para que eu o seguisse era como um chamado aos mais incríveis encantos. Acabávamos de nos conhecer e era como se já soubéssemos um do outro desde sempre. Naquele dia decidi que o queria perto de mim pra sempre.

Enquanto conversávamos, me encantava por seu olhar. Um brilho escapava de lá, a cada piscar de olho. E era mágico. Em seu rosto as espinhas estouravam. Eu também as tinha, não me incomodava. Pelo contrário, me deixava mais inebriado. Tinha uma beleza juvenil, um menino. Duvidava que seus pais o deixasse sair de casa sozinho. Mais um convite com brilho no olhar e sorriso no rosto e infelizmente eu não podia ir com ele, mesmo que minha vontade fosse de abandonar tudo que eu estava fazendo para o seguir.

Naquele fim de semana não pensei em outra coisa. Contava as horas para nosso próximo encontro. Esperei ansiosamente uma semana inteira para que pudesse abraçá-lo novamente. Minha alma não se continha de tamanha excitação. Meu corpo também não. Incontáveis foram as vezes que, durante essa semana, imaginei seu corpo junto ao meu e, claro, aliviei como qualquer adolescente, tamanha vontade de tê-lo pra mim. Um abraço era tudo que eu precisava. E sonhei que nos víamos muito mais que uma vez por dia e, mais de uma vez por dia o rendia homenagens solitárias em meu quarto, banheiro, quintal...

E finalmente pude revê-lo, com os mesmos sorrisos com os quais  havia me deixado no fim de semana anterior. A cada dia aumentava o meu desejo de reencontrá-lo. Aumentava também minha vontade de estar com ele todos os dias de minha vida. E se ficava um dia sem falar com ele era como estar mais próximo da morte.  A dor da saudade me matava aos pouquinhos, mas qualquer palavra dita, qualquer que fosse, era um sinal de alívio e esperança. Eu o amava e sabia disso. E ele sabia disso. E era recíproco. Nos amávamos como dois adolescentes que éramos.

E nos amamos por todos os dias, sem nunca beijar-nos, sem nunca tocarmos o sexo um do outro, sem nunca sequer contar para o outro o quanto estávamos apaixonados. E então, o destino, o mesmo que o trouxe até mim, tratou de tirá-lo de minhas mãos. E assim, da mesma maneira que a paixão surgiu, foi-se, depois de algumas lágrimas e de uma dá qual não me lembrava há 37 anos.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

how do you feel?

é apenas isso que me pergunta? rsrs!! como se fosse alguma novidade!
sério? quer mesmo que eu fale aqui como eu me sinto?
...
tá bom! apesar de achar essa a pior maneira de se começar uma conversa.
não, não me entenda mal, eu sei que as conversas começam com um "como cê tá?", mas é que hoje eu não gostaria de responder a essa pergunta.
posso escolher pular? rsrsrs
não, espera! eu vou responder, na verdade tem charminho no que falei até agora também. =P
...
...
...
estou bem.
...
mentira, a quem eu quero enganar?
não estou nada bem, estou desencontrado.
sempre soube que essa hora chegaria e, na verdade, não tenho a menor ideia do que fazer.
eu sei que você me avisou. como não lembrar de sua voz cada vez que eu paro pra pensar naquelas palavras. nas muitas que trocamos, aliás. nas todas.
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eu criei um monstro dentro de mim e ele não me faz bem.
eu deveria saber como matá-lo, afinal de contas criador >>>>>>> criatura.
mas a verdade é que eu não tenho a mínima ideia.
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não, não quero te importunar com minhas besteiras infanto-juvenis.
elas servem pra derrubar algumas lágrimas e me fazer escutar todos os CDs que eu comprei quando tinha 14 anos e sofria de amores por uma garota de minha sala.
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no mais, estou bem. o que eu tenho é o desejo de paz de espírito e de sonhos.
acho que estou meio triste porque o vasco perdeu também.
e, pra ser sincero, to chateado porque muitos dos meus já nem lembram que eu existo.
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eu sei. não precisa me lembrar que a culpa é minha também. você não é a única pessoa que me diz isso. RISOS.
outra coisa, nada a ver, minha camisa do cachorrinho com cara molhada está na sua casa?
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eu posso passar aí pra pegar? quero ir pra faculdade com ela na quarta.
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aproveitamos e conversamos mais. eu não quero jogar todas as minhas tristezas aqui. quero gastar minhas lágrimas em seu ombro.
e poder contar tudo tomando vinho. eu vou levar coxinha também, acho que meu espírito merece.
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depois falamos, beijos.