terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sobre dois adolescentes (ou Há quase 40 anos)


Quando o vi pela primeira vez, só enxerguei seu sorriso. Era lindo. Apenas isso vinha em minha mente. Seu convite para que eu o seguisse era como um chamado aos mais incríveis encantos. Acabávamos de nos conhecer e era como se já soubéssemos um do outro desde sempre. Naquele dia decidi que o queria perto de mim pra sempre.

Enquanto conversávamos, me encantava por seu olhar. Um brilho escapava de lá, a cada piscar de olho. E era mágico. Em seu rosto as espinhas estouravam. Eu também as tinha, não me incomodava. Pelo contrário, me deixava mais inebriado. Tinha uma beleza juvenil, um menino. Duvidava que seus pais o deixasse sair de casa sozinho. Mais um convite com brilho no olhar e sorriso no rosto e infelizmente eu não podia ir com ele, mesmo que minha vontade fosse de abandonar tudo que eu estava fazendo para o seguir.

Naquele fim de semana não pensei em outra coisa. Contava as horas para nosso próximo encontro. Esperei ansiosamente uma semana inteira para que pudesse abraçá-lo novamente. Minha alma não se continha de tamanha excitação. Meu corpo também não. Incontáveis foram as vezes que, durante essa semana, imaginei seu corpo junto ao meu e, claro, aliviei como qualquer adolescente, tamanha vontade de tê-lo pra mim. Um abraço era tudo que eu precisava. E sonhei que nos víamos muito mais que uma vez por dia e, mais de uma vez por dia o rendia homenagens solitárias em meu quarto, banheiro, quintal...

E finalmente pude revê-lo, com os mesmos sorrisos com os quais  havia me deixado no fim de semana anterior. A cada dia aumentava o meu desejo de reencontrá-lo. Aumentava também minha vontade de estar com ele todos os dias de minha vida. E se ficava um dia sem falar com ele era como estar mais próximo da morte.  A dor da saudade me matava aos pouquinhos, mas qualquer palavra dita, qualquer que fosse, era um sinal de alívio e esperança. Eu o amava e sabia disso. E ele sabia disso. E era recíproco. Nos amávamos como dois adolescentes que éramos.

E nos amamos por todos os dias, sem nunca beijar-nos, sem nunca tocarmos o sexo um do outro, sem nunca sequer contar para o outro o quanto estávamos apaixonados. E então, o destino, o mesmo que o trouxe até mim, tratou de tirá-lo de minhas mãos. E assim, da mesma maneira que a paixão surgiu, foi-se, depois de algumas lágrimas e de uma dá qual não me lembrava há 37 anos.

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