segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sem Título (Segredos)


Contava agora os seus segredos para outro homem. Um homem que não era o seu. Sentiu falta do colo de outros dias. O colo que fora seu por tanto tempo, por mais de quinze anos. Uma fraca lágrima surgiu em seu olhar e ele foi incapaz de impedir que ela se derramasse pelo seu rosto. Limpou com um lenço rapidamente, sem deixar que o outro percebesse a tristeza em seu olhar. E na verdade, não queria que ninguém soubesse que ele já não sorria há algum tempo.

Quando Carlos o deixou, ele achava que não conseguiria nunca mais levantar da cama. Claro que era um exagero. Ele conseguiu não só levantar da cama. Conseguiu também sobreviver cada dia que se seguiu. Não fazia a menor ideia de como ele podia realizar todas as tarefas que se propunha a fazer diariamente. No início, mesmo lavar o rosto era quase impossível. E já conseguia, hoje em dia, ao menos cantar alguns versos. Decerto, era uma canção que lembrava a bela história deles dois. E a cada semana, a lembrança tinha menos dor, menos peso, menos amargura.

Um dia conseguiu mudar a lembrança. Já não era a imagem de Carlos cruzando a porta que vinha à sua mente ao cantarolar. E talvez nunca mais seria. Começou a arrumar malas e pôs nelas todas as esquecidas memórias. Deixou na portaria junto com um envelope. Ligou para o dono e pediu que ele pegasse. Este pensou que poderia se tratar de um reencontro, mas recebeu o recado

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