sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Frida

Acendeu todas as velas que conseguiu encontrar em casa
Fez uma oração a todos os santos que conhecia
A todos os orixás, da terra e da água, aos caboclos.
Fez uma canção especial à Rainha das Águas, que é Iemanjá.

Dessa forma continuou a noite inteira entoando louvores e cânticos
Clamando à mãe natureza, aos seus deuses e deusas.

Escreveu num papel uma lista de desejos, já acendera o fogo
Agora queimava a lista,
E como a deixar que o vento soprasse seus desejos aos deuses
Deixou que o vento levasse as cinzas para longe

Cantava durante todo o ritual
Molhou os cabelos com a água abençoada por ela mesma,
Enquanto entoava as canções
Era parte do ritual, se fazer
Parte da natureza também.
Evocou mais uma vez todos os seus deuses, orixás, santos...
Podia sentir o poder de suas orações.
Como um sopro de energia

Não sabia no que resultaria aquilo, mas sentia-se plena
E sua alma já estava em êxtase
Continuou cantando às águas, 
Pediu a benção dos céus, 
Reza com a vela acesa
Entre dizeres ensaiados e espontâneos
Lágrimas e arrepios e vontade de ser tudo

Como se todo bem e todo mal se encontrasse nela
Como se todo o poder do universo estivesse em seu corpo
Como a magia da noite e do dia pudesse fazê-la completa
Era ela acompanhada por anjos e santos
Era ela comandando exército de bem e mal, numa equivalência
Nunca antes vista
E era nela que tudo parecia convergir

E num vento muito forte, o apagar de todas as velas
E um raio cortando o céu
E a chuva que começava a cair com muita força
E a certeza de estar sendo escutada

Já não entoava mais cântico algum
Calou-se
E ficou sentindo-se parte do universo
Sentido o universo girar contigo
E todos os deuses lhes soprarem segredos aos ouvidos
E caiu num sono tranquilo.

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