quarta-feira, 21 de julho de 2010

calmante

borboleta em cima da mesa
como um monte de cores em cima
da prancheta
e um
minuto apenas de sobriedade
e um gole na cachaça pra me fazer dormir
e um beijo e uma raiva e um veneno
e sem querer, explodi 

desde que eu te vi ontem e me imaginei dentro
de seu corpo
e o meu corpo querendo sentir 
contagem regressiva em nossa cama
e dez armar o gozo
pra não se fazer enxergar suor

vai dormir hoje com um pouco de remédios
e vai fazer efeito essa droga que ele fuma?
e esse pó que clareia seu rosto e esconde suas feições
e essa areia que está na sua boca
na sua pele
no seu chão
no chão da sala

se arrasta
moleque cheio de tremores
temores
terrores
atores em cena
e
luz e palco e aplauso 
pra puta que pariu
no asfalto

deixou o sangue escorrer
suor e sêmen
escorrerem
e o pouco da noite passada
passar na lembrança
cachaça, porra, fumaça

sonos em borboleta de cores vic

domingo, 18 de julho de 2010

(sem título)

me sobra um olhar no restinho de madrugada
quando planos e sonhos e desejos e quereres
já não têm a mínima importância

se não fosse por um pedaço de lua que ainda se vê no alto
poderia dizer que era pura imaginação

contar estrelas com a cabeça num travesseiro de areia
nunca tinha sido tão gostoso
e as mãos entrelaçadas
e os cabelos
que são enovelados
enovelaram também os carinhos

sobre jogar, no início da manhã
presentes pra sereia
e desejar que o amor seja eterno

sobre acreditar em mandinga
a mandinga que uniu um e outro
num só

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Cotidiano (ou A História de Uma Madrugada)

Rafael levantou, vestiu-se, olhou para a cama, beijou quem nela dormia, saiu pela porta acendendo um cigarro.

Rafael não conseguiu sair. Sentou no sofá da sala e esperou quem estava na cama acordar pra poderem conversar. Tomou um iogurte.

Rafael esperou acendendo mais um cigarro. Sentia-se estranho. Ouviu um barulho que vinha do quarto. Estava quase na hora.

Rafael ficou apreensivo. Pôde ouvir a água do chuveiro cair, um cantarolar que vinha do banheiro. Levantou, quis ir até lá. Preferiu o não

Rafael sujeitou-se a esperar mais uma vez. O chuveiro desligado tornou a cena mais apreensiva.

Rafael olhou a porta do quarto abrir-se. Viu o sorriso de quem estava na cama. Não resistiu ao beijo que desejava.

Rafael pôde sentir a língua de quem estava na cama roçar a sua. Seu desejo era tão grande. Tudo podia esperar. Voltou à cama. Voltaram.

Cotidiano II (ou A Outra Parte da História de Uma Madrugada)

Augusto acordou, mas preferiu continuar deitado. Olhos fechados. Sentiu um beijo e fumaça de cigarro.

Augusto levantou, olhou pela janela, tentou ver quem tinha saído de seu quarto através dela. Não viu. Tomou um pouco de água.

Augusto pegou uma muda de roupa no closet. Esbarrou no criado-mudo e deixou cair o despertador.
Estava sentindo-se bem, apesar de nervoso. Tomou um banho, cantarolou algumas músicas. Desejou quem tinha saído do quarto junto a ele no banho.  

Augusto terminou o banho. Secou seu corpo. Pensou em telefonar depois do café, marcar uma conversa e um vinho à noite. Estava tão apreensivo. 

Augusto abriu a porta do quarto. Encontrou o sorriso de quem tinha saído do quarto no sofá da sala. Não resistiu ao beijo que desejava.

Augusto pode sentir os lábios quentes de quem tinha saído do quarto. Agradeceu por ele não ter ido embora. Voltou à cama. Voltaram.