Acordei de um cochilo no meio da tarde. Estava frio. Vesti um casaco que estava jogado num canto do quarto. Muito vento na janela fechada. Sabe quando a chuva vem acompanhada por vento? E se torna violenta? Como aquelas palavras que trocamos quando com raiva. Que, na verdade, nem são violentas, mas a força com que saem de nossos pulmões pode até ferir.
Abri a janela e senti a chuva fina e fria molhar meu rosto. Precisava de um café para compor a cena de comédia romântica. Aquela sequência em que os casais se separam e todo mundo no cinema só espera a solução da distância, que é só fruto de uma grande confusão dos personagens. Providenciei o café e o cigarro (cigarros, claro, como sofrer sem café e cigarro?).
Falta ainda uma coisa. Faltou a música. De todas as comédias românticas que eu vi, qual delas me daria uma trilha sonora? Olhei todos os meus discos. Dos que estão em minha biblioteca no iPod. The Winner Takes It All. Que música linda do caralho. Já chorei tanto escutando. Cantei com Meryl Streep todas as 16 vezes que assisti a Mamma Mia! (e todas as outras que coloquei o DVD apenas para ouvir as músicas).
Café, cigarro, música. O que mais faltava? Lágrimas? Não.
A chuva diminuiu sua força contra a vidraça. Voltei a abrir a janela e, dessa vez, nenhum pingo veio em minha direção. Acho que a magia estava se encerrando.
O café já tinha acabado, o cigarro também.
Takes it all. Has to fall. And it's plain. I complain.
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