quinta-feira, 5 de junho de 2014

Não há mais estrada (ou Não tenho certeza se é sonho ou realidade)

Acordei lembrando daquela viagem. A última que fizemos juntos, antes do acidente de moto. Tava lembrando da gente quase deitado naquelas poltronas reclináveis do ônibus. Lembra que pegamos o primeiro que encontramos na rodoviária sem sequer saber aonde ele ia? E eu, rezando por dentro pra que a viagem demorasse tempo suficiente pra eu cansar de ficar de teu lado. A gente viajou durante três dias e eu queria mais.

Mas que loucura, aquilo! Será que a gente teria a mesma coragem, hoje em dia? Nunca vou me esquecer de nossas risadas no meio da madrugada tapando a boca um do outro, pra não acordar ninguém. Ou de nosso sexo, que foi quase um contorcionismo, na tentativa de não fazer as pessoas perceberem nada. E aquele tiozinho da poltrona do lado ainda acordou...

Acho que foi a viagem mais longa que já fiz. Mas os três dias pareceram minutos, quase segundos... Eu faria tudo novamente. Até as mesmas fotografias. Pois é, eu que reclamava a cada foto que você queria fazer, eu faria todas de novo e de novo e de novo. Só pra ter você por perto. Seu cheiro de perfume vagabundo comprado na beira da estrada porque esqueceu o desodorante em casa. Nossa, que coisa horrenda era aquilo.

Mas veja no que me  tornei. Um saudosista notívago. Quase um vampiro, sugando o pouco de felicidade que ainda resta das pessoas ao redor. Na verdade, estou no meio de uma festa sem graça, nesse exato momento. Com muita pouca paciência pro João Alfredo, o Augusto e o George, que passaram a noite inteira cheirando. Sem saco algum pra aturar as risadas altas e desnecessárias de Mirela e os baseados que ela fumou. Acho que estou um pouco bêbado e só queria ficar no meu canto, com as cabras.

Colocaram o Transa pra tocar e tá na faixa 4. A sua música preferida. Eu vou vomitar a batata frita que comi no jantar. Mentira. A quem eu quero enganar. Todo mundo aqui sabe que eu me tranquei no banheiro pra chorar. Eu ainda não aprendi a lidar com sua falta. E não consigo passar por aquela curva. Era pra eu estar sem capacete. Me arrependo tanto de ter te permitido me convencer a usar, enquanto o experiente e destemido você viajava sem. Eu devia ter evitado.

Estão batendo na porta do banheiro, devem estar com medo que eu me mate. Por mais que minha vontade seja estar contigo nesse momento, eu não sou tão corajoso assim. Mesmo que os remédios de Sara estejam no armário e a tentação seja uma forte aliada do álcool...

Eu preciso saber viver sem você. Não sei ainda quando vou conseguir.

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