Alberto. Esse é o nome do comedor de criancinhas que arruinou minha vida. Quando o conheci ele era apenas o vendedor de uma loja de roupas onde, por engano, fui parar. Logo depois ele viria a se tornar o namorado de meu melhor amigo.
Essa foi a pior maneira do destino fazer nossos caminhos se cruzarem novamente. Começamos a sair, sempre juntos, os quatro. Alberto e meu amigo, eu e meu namorado. Íamos a festas e jantávamos juntos. Assistíamos espetáculos de teatro, tomávamos vinho e discutíamos arte depois à noite.
Fumávamos juntos também. Conversávamos sobre sexo, partilhávamos intimidades e, algumas vezes, a cama. Não pense que fazíamos sacanagem juntos. Não! Dormíamos juntos, eventualmente flagrava Alberto e meu amigo em movimentos denunciantes. E não duvido que eu e meu namorado já não tenhamos sido flagrados.
Éramos jovens e desapegados de demais pudores.
Triste foi o dia que meu olhar cruzou o olhar de Alberto e seu sorriso me pareceu iluminar todo o canto escuro da sala. Já não sentia mais por meu namorado o que sentia em início do namoro. Nenhuma paixão dura para sempre. Mas nunca também sentira por outro homem, que não ele, algo tão forte quanto sentira agora por Alberto. Decerto é apenas a força da convivência, pensei.
Dias se passaram e meu fascínio por Alberto e desfascínio por meu namorado só cresciam. Eu não compreendia muito bem, mas sentia. E não tinha sequer vontade de transar com ele. Mas as cenas de sexo que eu presenciava, agora mais frequentemente, já que moramos, os quatro, na mesma casa, só com essas cenas eu conseguia gozar.
Até que o dia de hoje chegou. Antes desse texto, escrevi uma carta. Deixei dentro do cinzeiro. Alguém lerá. Depois de escrevê-la, peguei minhas malas, minha coleção de discos de vinil e parti. Ainda não sei para onde vou. Talvez para longe da mais profunda dependência, longe do mais triste desquerer e perto de minha sanidade.
Agora, com o vento quase fechando minhas pestanas, já me sinto mais livre. Estou na estrada.
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