quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Insônia

Era madrugada de terça-feira e Marcelo não conseguia dormir. Trabalharia, no dia seguinte, com os olhos vermelhos. Era um conjunto de emoções que nunca tinha experimentado. Putz! Em pensar que Marcelo era só um jovem apaixonado. Não sabia que a paixão doía tanto. Todas as vezes que dissera-se apaixonado, mentira para si e para todas as que escutavam. Mas dessa vez era diferente. Estranhamente diferente.

Insônia era uma realidade nova, medo de perder também. As lágrimas de saudade também. E que droga estava fazendo que não tinha ligado ainda. Mas era alta noite. Não devia ligar para ninguém uma hora dessas. Deitou na cama e olhava para o teto, como contemplasse o universo inteiro. Daí então, pode sorrir. Gargalhou, na verdade. E só uma cena lhe vinha à mente. Um beijo inesperadamente recebido, um susto, um olhar encabulado e uma fuga desajeitada.

Marcelo queria entender. Era jovem, mas não a ponto de não ter tido experiências de amor. Sentia como se fosse explodir. E tinha no peito um ardor. Queimava como nunca antes sentira. Parecia que ia morrer. Pensou que não deveria estar se sentindo assim. E quanto mais pensava, mais doía. E mais sentia. E mais gostava de sentir. Desistiu de lutar contra.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ana

A chuva fina caía sobre ela, enquanto caminhava pelo largo corredor de árvores centenárias. Não sabia o que estava fazendo ali. Se sentia perdida, mas ao mesmo tempo, era como se pudesse ser feliz. Ana olhou para cima e viu as folhas balançarem no alto, os fios da rede elétrica pingando gotas de água. Começou a sorrir. Na verdade, gargalhava. Era uma felicidade que não sabia de onde vinha. Uma felicidade que nunca mais tinha sentido. E os pingos da chuva foram ficando mais fortes. E confundiram-se com suas lágrimas. E era uma alegria tamanha. Era loucura. Ela gritou. Gritou como se nunca tivesse dito uma palavra sequer. Como se o mundo inteiro a pudesse escutar. Mas ninguém a ouvia. E o que importa nisso tudo? Para Ana, era só saber ser feliz enquanto podia. Logo o sol sairia novamente, a chuva e a alegria iriam embora. Os sorrisos lhe fugiriam à face, como a água escorreria pelos esgotos e secaria no asfalto. Aproveitou os últimos instantes que sabia ser feliz e viveu a melhor de todas as experiências.