segunda-feira, 31 de maio de 2010

Amélia

Jogou as chaves num canto qualquer. Correu pra janela pra tentar ver os carros lá embaixo. Há muito tempo não se sentia tão feliz. Corria de um lado a outro de seu apartamento. Acendia e apagava as luzes. Riscava papéis. Rasgava outros. Queimava mais um tanto. Saltava e cantava como uma criança que ganha o brinquedo mais desejado. Era o melhor de todos os dias de sua vida. Era uma felicidade que não sabia nem de onde vinha. Mas sentia. Ligou a TV, conversou com ela um pouco e em seguida desligou. Ligou o rádio, que tocava a sua música predileta. Dançou como dançara no seu baile de debutantes. E sorria. Sorria muito. Pra tudo. Pra todos que passavam embaixo. Era como recomeçar a sua vida. Era como se encaixar perfeitamente no que ela sempre sonhara. Era como receber o primeiro sim de sua vida. e assim adormeceu.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Alessandra e Alberto

Segurou as lágrimas no olho. Achava a vista do mar tão bonita durante a tarde. Esperava sempre o pôr-do-sol sentada na mesma pedra há treze anos. Estava mais uma vez naquela pedra que já era amiga de suas alegrias, tristezas, euforias e dores, amores, paixões, medos...

Agora estava apenas admirando o mar. A beleza das ondas que iam e vinham e iam e vinham e iam. Alessandra sentada na pedra. A lágrima contida no olhar.

Conversava com o vento, com a areia. Colocava tudo o que sentia naquele momento em palavras jogadas.

Alessandra amava estar sozinha, mas agora sentia-se abandonada. Estava triste. A lágrima irremediavelmente escorreu pelo seu rosto.

Alberto passou, percebeu que uma mulher chorava sentada em sua pedra. Olhou para ela e perguntou o que se passava. Na mesma hora ela secou com a manga da camisa e disse: "Só uma lágrima!"

Alberto respondeu: "Então quando acabar, saia de cima da minha pedra, preciso eu chorar nela daqui a pouco."

Enquanto se punha o sol, Alessandra caminhava pela areia voltando para casa enquanto Alberto sentava na pedra.

Areia.

Mar.