Conta o alarme que as horas passaram!
Me parece que o relógio é mais que um velho amigo!
Talvez seja apenas minha velha impressão!
Mas talvez seja apenas o copo de vinho!
Quando eu olho para fora
Vejo o sol... Ainda!
Ainda!? Já!?
Tem mil horas que eu estou aqui!
Mil horas se passaram!? Ou eu apenas não suportei a dose do absinto!?
Me parece que o galo cantou num terreiro próximo!
Mas o galo cantou!? Talvez seja minha fértil imaginação!
Filosofando como sempre! Escrevendo um poema em um pedaço de papel!
Sei que das mulheres que estavam comigo, me resta apenas uma!
As outras sumiram nos becos e cantinhos com meus amigos!
E ainda vejo o sol!
Na beira do mar! Deve ser dia!
Mas é nessa praia que aprecio o pôr-do-sol!
É fim de tarde!
Mas e o galo cantor!? Cantor adiantado!? Atrasado!? Galo japonês!?
"Galo de macumba!", gritou o bêbado da mesa seis ou mesa nove a depender do ângulo!
Se meu relógio não estivesse agora nas mãos de um trombadinha eu até veria que horas são!
Mas confiar em meus olhos cheios de fumaça dos cigarros dos vizinhos de mesa!
Cheios de absinto e vinho!
Meus olhos não são confiáveis!
Meus amigos não são confiáveis!!
Não conseguem estar normais!
Chega de incerteza! Chega de querer saber que horas são!
É melhor começar a aplaudir o cantor que se esforça pra conseguir atenção!
Que música chata!
Melhor tomar conta de minha companhia...
Ela já não está em seu melhor estado!!
Mas se o despertador tocou!?
Que horas são!?
Sol!?
Vou cair no mar!
Tomar banho de água salgada!
Bem que me avisaram que era galo de macumba!
Maldito copo de absinto!
Me deixa zonzo lembrar de como é bom!
Dorme!...
Imagem: Sara Mello (artista plástica)