Sabe, naquela manhã que você me deixou, eu achei que morreria. Foi doloroso pra caralho assistir a você arrumar as malas, uma por uma, em silêncio. Nossa, cada camisa que você colocava na sacola era uma ferida aberta em meu peito. Você não faz ideia de como eu me rasguei por dentro. O zíper se fechando era como uma navalha rasgando a minha pele. As lágrimas escorrendo em meu rosto eram como uma sangria de um novilho. Eu morri mais de trinta e duas vezes naquela manhã. E não tive sequer um olhar de piedade. Eu quis sua piedade, cara.
Eu não dormi durante três dias. Eu precisei ligar pra meus melhores amigos. Eu não tinha forças pra levantar da cama. Sabe aquela sua corrente, que eu mesmo dei de presente no verão que passamos em Búzios? Eu desejei que ela fosse uma corda e, assim, eu poderia dar cabo de minha vida com um pedaço seu. Eu a escondi achando que você, ao menos, voltaria pra tomá-la de mim. Mas você parece ter desistido dela, da mesma forma que desistiu de nós.
Ainda não entendo por que você se foi. Será que um dia teremos a chance de conversar sobre isso? A cada manhã eu imagino que ainda acordarei de seu lado, mas, porra, você não tá lá, caralho!
Sonhei com você, dia desses. Você morria em um acidente de moto. Eu acordei aos prantos, mas confesso, me sentia aliviado, no sonho, por saber que meu sofrimento teria acabado pra sempre. Prefiro que você morra a saber que você consegue ser feliz sem mim. Não sei se posso te esquecer. Não sei sequer se eu consigo imaginar a minha vida sem você, mas sei que prefiro que você esteja morto a imaginar que me deixou porque era infeliz.
Entendi, agora. Eu nunca te fiz feliz. É isso. Eu errei o tempo inteiro, meu Deus. Eu quero te pedir desculpas, eu posso ser diferente. Deixa eu te provar que posso mudar. Preciso de você ao meu lado.
À merda essa porra de carta do inferno. Eu não quero que você volte. Eu vou ficar bem.
Por favor, manda notícias.