Chove muito lá fora. Corri pra fechar as janelas e evitar que minha cama ficasse molhada com a torrente que não parava desde oito da noite. Graças a deus ou alguma divindade, eu tinha acabado de chegar em casa quando a tempestade começou. Não me molhei.
Mas a casa está fria. Chegar, tirar os sapatos, pisar o chão gelado me fez arrepiar um pouco. Até pensei em você, saindo do quarto com aquele lençol estampado na cabeça, correndo sem roupa pela casa com um sorriso no rosto. Lembra?
Só que não tinha você. Nem lençol estampado. Sequer alegria no rosto de ninguém. No meu, pelo menos, não havia nenhuma expressão de felicidade. Era só o cansaço de um dia cheio e a chateação das horas dentro de um ônibus preso em um engarrafamento.
Acendi um cigarro. Tinha parado de fumar depois que você foi embora, mas quando a saudade apertou, o sabor do cigarro em minha boca me fazia lembrar o gosto de sua língua quando roçava a minha. Sim, tenho tentado te encontrar nessas besteiras. Meu risco maior é me viciar em alguma droga. Ou me viciar em cheirar as roupas que estão em sua gaveta de gravatas. O cheiro delas ainda está lá. Agora eu uso para minhas cuecas. É estranho, eu sei. Mas minha loucura se explica na saudade.
Bom, a chuva parou por aqui. Deve ter ido molhar o rosto de outro cara sozinho em casa e ainda apaixonado. Deixou um rastro estranho de passado. Trouxe as fotos rasgadas que estavam empilhadas perto do lixo da cozinha. O cigarro acabou e o banho quente me aqueceu do frio. Está bem... Por essa noite eu deixo pra lá, não vou me preocupar que você não volte.
Acho que te ligarei amanhã pela tarde, pra perguntar como está Finho. Já sabe que vou querer saber como anda sua vida também, né? Então, não deixe de me atender. E não se esqueça de voltar logo pra perto de mim. O efeito do banho dura pouco.