acendeu o último cigarro que encontrou no maço. tomou uma média pra tirar o bafo dos pesadelos. ainda estava acordando. e na mente, ainda podia ver o escorpião caminhando pelo seu corpo. não podia sequer fechar os olhos para um bocejo que voltava a sentir o passeio do escorpião por seu pescoço. e quando abria os olhos não se sentia aliviado por parecer que ainda sonhava. pelo contrário, ficava até desapontado em ser tudo um produto de sua cabeça. o escorpião ia sumindo de sua mente, como qualquer sonho faz depois do despertar, mas ele se esforçava para lembrar. forçava os olhos fechados para que as patas do escorpião não pudessem sair do emaranhado formado com seus cabelos. tentava manter na memória as pinças que numa cena prendia seus lábios e o impedia de falar. pesadelo. sonho. não sabia o que era, de fato. mas queria deixar isso guardado. já no final do cigarro, lembrou de como fizera para se livrar. apenas um sopro e o escorpião mudara de forma. passava a ser imagem, desenho no papel. inofensivo. inofensivo. acordou e no mesmo papel pintado com o veneno do escorpião, enrolou um baseado.