Estava com um vestido lindo. Era novo. Acabara de comprar numa dessas lojas de gente rica. Tinha comprado especialmente para aquela ocasião. Então, tinha entrado naquele boteco pra saber como era e tinha adorado. Prometeu que voltaria tão logo quanto achasse um bom motivo para beber. Acendeu um cigarro. Ela aceditava parecer uma dessas damas de revista chique ou da novela da televisão. Era loucura, ela sabia. Mas queria uma vez apenas se sentir como se sentem essas mulheres.
Pediu uma mesa pra dois ao garçom. Não teria um encontro. Não era do tipo de mulher que tem encontros. Apenas não tinham mesas pra uma pessoa neste lugar e o balcão não era lugar para uma dama como ela.
Sentou, com seu cigarro ainda incensando o ambiente, pediu gin e tônica e bebeu devagar, como degustasse um bom vinho.
Pensava em algo vivido no passado, como a morte de sua mãe, ou a despedida de seu pai no dia de sua mudança para a capital. Pensava em algo triste para fazer as lágrimas descerem seu rosto. E elas desceram.
E a maquiagem, com tanto trabalho colocada, escorria pela sua face, como a chuva lavando a areia de uma colina. E borrada, a maquiagem tornava mais trágica aquela cena. Uma mulher. Uma dama.
Estava como ela queria. A cena estava completa. Não precisou ter um amor perdido, um animal de estimação morto ou um grande desespero. Só queria saber como era ser a mulher estranha de maquiagem suja e com cigarro na mão, para quem todos olhavam naquele ambiente.
Como se nada tivesse acontecido, pediu a conta. Ainda em lágrimas, pagou ao garçom, levantou-se e saiu. Saiu sem olhar para trás, sem limpar o rosto e sem apagar o cigarro